As pessoas que eram melhores que nós estavam confortáveis.
Elas viviam em casas pintadas com vasos sanitários.
Dirigiam carros cujo ano e marca eram reconhecíveis.
Os que eram piores eram pesarosos e não trabalhavam.
Seus carros estranhos ficavam em pátios empoeirados.
Os anos passam e tudo e todos são substituídos.
Mas uma coisa ainda é certa: Eu nunca gostei de trabalhar.
Minha aspiração era sempre ser indolente.
Eu via o mérito nisso.
Eu gostava da ideia de sentar numa cadeira em frente à sua casa por horas,
fazendo nada mais que usar um chapéu e beber coca-cola.
O que há de errado nisso?
Fumando um cigarro de vez em quando.
Cuspir.
Fazer coisas de madeira com uma faca.
Onde está o dano aí?
Às vezes chamar os cães a caçar coelhos.
Experimente isso algum dia. Alguma vez acenar a um menino gordo e louro como eu e dizer,
‘Eu não te conheço?’
E não, ‘O que você vai ser quando crescer?’
© Da tradução: Igor Fracalossi.
Referência: CARVER, Raymond. “Shiftless”, em Ultramarine, 1986.